21 setembro 2009

Em resgates nos acidentes, as histórias de quem trabalha salvando vidas no trânsito

Eram sete horas da manhã do dia 3 de agosto de 2009. Uma ambulância da Secretaria Municipal de Saúde de Diamantino seguia para Cuiabá levando um paciente ao Hospital Geral Universitário (HGU) quando bateu na mureta de proteção de uma ponte no quilômetro 55 da rodovia que liga o Distrito da Guia ao município de Acorizal.

O motorista Emerson Silva da Costa, 37 anos, perdeu o controle do veículo ao bater na mureta de proteção e ficou com as duas pernas presas entre a estrutura metálica e o motor do carro. Após quase uma hora de um trabalho minucioso, uma equipe do Corpo de Bombeiros Militar retirou Emerson das ferragens. Devido a pressão, o motorista teve fratura na tíbia da perna esquerda. O paciente que estava na ambulância junto com Emerson sofreu ferimentos leves. “Foi um trabalho de resgate muito bom e um alívio quando senti minhas pernas soltas novamente. Tive um excelente atendimento do Corpo de Bombeiros”, avaliou Emerson.

O caso do motorista faz parte de uma pequena estatística de um dos trabalhos mais meticulosos e exclusivos do Corpo de Bombeiros Militar: resgatar pessoas presas em ferragens.

De janeiro a agosto deste ano, o Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp) registrou 63 acidentes de trânsito com vítimas presas em ferragens. No mesmo período de 2008 foram 43. Pelas estatísticas do Ciosp, acidentes com essa característica acontecem em maior número no período da tarde, do meio dia às 18h. Foi registrado um total de 33 entre os meses de janeiro a agosto de 2009, e 19 no mesmo período do ano passado.

Ainda, conforme informações do banco de dados do Ciosp, na região da grande Cuiabá, os bairros que mais registraram esse tipo de acidente foram Distrito Industrial, em Cuiabá, e Boa Vista, em Várzea Grande, somando o primeiro 18 acidentes do tipo e o segundo com 22 registros. A região do bairro Distrito Industrial, no Coxipó, faz escoamento da rodovia 364, assim como o bairro Boa Vista, que também abrange as BRs 070; 174 e 364.

FERRAMENTAS – O Corpo de Bombeiros Militar é a única instituição da segurança pública capaz de atender acidentes com vítimas presas em ferragens por possuir o aparelho desencarcerador. Específico para esse tipo de resgate, o aparelho corta e afasta ferragens do corpo da vítima.

Após esse processo, dependendo do tipo do acidente e da situação da vítima, os militares utilizam cordas, macaco hidráulico ou correntes para afastar as ferragens do acidentado. Enquanto uma equipe dos bombeiros atua na remoção da vítima das ferragens, outra controla os sinais vitais, estacando hemorragias e imobilizando a coluna vertebral, garantindo a estabilidade do acidentado.

HISTÓRIA DE ATUAÇÃO – Nem em todos os casos de acidentes de trânsito com vítimas presas em ferragem o Corpo de Bombeiros consegue atuar com êxito. Foi o que aconteceu no último dia 31 de agosto, quando uma pessoa morreu carbonizada ao ficar presa nas ferragens de um caminhão carregado de fertilizantes.

O acidente envolveu quatro veículos de carga e aconteceu no quilômetro 349, na rodovia BR 364, próximo a Serra de São Vicente. Waldir de Jesus Silva, de 24 anos, motorista do caminhão foi retirado da cabine pelos bombeiros já sem vida.

Em outra situação, os bombeiros conseguiram retirar a vítima das ferragens, mas ela não resistiu aos ferimentos e morreu a caminho da unidade de saúde. “Essa foi uma situação que marcou muito minha vida como profissional. Foi um resgate bastante demorado, de quase duas horas, e lembro que a vítima nos pedia a todo tempo que não a deixássemos morrer”, lembra o cabo BM Reginaldo Moreira da Silva, do 1º Batalhão de Bombeiros Militar.

“Era um caminhoneiro que tinha caído com o caminhão carregado de carvão numa ribanceira, próximo a Serra de São Vicente. Ele ficou com os membros inferiores presos nas ferragens. Foi resgatado com vida mas não resistiu a hemorragia interna e morreu à caminho do hospital”, completou o bombeiro, que atua há 11 anos na área operacional de resgate da corporação.

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