11 março 2011

“A Polícia só é respeitada porque é violenta”

Já escrevi sobre algumas falácias apregoadas por policiais (e não policiais), falsos argumentos que sustentam um imaginário em torno do que é ou do que deve ser a prática policial. Um deles é o que tenta relacionar “respeito” a práticas de abuso da força: “A polícia só é respeitada porque é violenta”, dizem.

Se a polícia é respeitada porque é violenta, passo a entender que não é possível que a polícia seja respeitada sem cometer abusos. Começamos a desconstruir esta mentira, primeiro, observando algumas experiências internacionais. Desde o Chile, nosso vizinho latino-americano, até o Japão, países que possuem polícias pouco violentas e muito confiadas pela população.


Outro ponto destacável é a escassez, em nosso país, de outra filosofia de atuação policial que não seja a distante, ríspida e superficial relação com a população, com quem o policial só se encontra nos momentos de crise, reativamente. Pensando que violência gera respeito, seria complicado entender casos em que policiais sozinhos atuam em municípios interioranos, gerenciando conflitos sem sequer alterar o tom de voz. Salvo a atuação de forasteiros, essas verdadeiras autoridades (geralmente cabos ou sargentos da PM) conseguem criar uma complexa rede de respeito comunitário. Sem violência.

Também precisamos diferenciar violência de rigor, ou seja, embora as polícias sejam violentas (os números mostram isso), são ainda muito lenientes com muitas práticas. Muitos grandes e pequenos infratores cometem crimes por anos a fio, sem qualquer represália. Uma polícia que anulasse essa impunidade democrática certamente seria mais respeitada. A Polícia Federal Brasileira, apesar de também possuir seus problemas, é festejada e respeitada pela sociedade em suas atuações eficazes.

Certamente, muitos dos que dizem a frase que ora combatemos, o fazem irrefletidamente, sem sequer observar o significado de “respeito”, bem distante do que sentimos quando sofremos alguma violência. O abuso da força policial gera medo, revolta, desconfiança… Sentimentos bem distantes dos que devem pautar a relação entre polícia e sociedade.


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